No Brasil, o racismo e o
patriarcado foram elementos motores do colonialismo, porém, longe de
desaparecerem como herança do passado escravista, tais elementos foram
redimensionados e atualizados sob a dinâmica da produção capitalista. Isso fez
com que o racismo e o sexismo assumissem dimensões estruturadoras do modo como
o capitalismo se organizou e até hoje reproduz suas desigualdades.
No topo do sistema estão os
homens brancos, donos do capital, hegemônicos na política tradicional,
heteronormativos, defensores da pátria (deles), da família (deles) e da
propriedade (deles), e, em nome de tal poder, não aceitam que a maioria da
população, formada por mulheres, e sobretudo por mulheres negras, sejam
reconhecidas como parte de uma mesma humanidade e que sejam tratadas com
dignidade e igualdade.
Segundo o IBGE (2022), no estado
de Pernambuco, a população feminina negra é composta por 3.053.720 mulheres, o
que corresponde ao maior grupo populacional do estado, atingindo a proporção de
33,7% quando comparados aos demais segmentos étnico-raciais do total da
população pernambucana.
Mesmo sendo numericamente
expressivas, as mulheres negras foram transformadas no segmento populacional
mais aprisionado a diferentes formas de opressão e exploração que se
interseccionam e se reproduzem em todas as dimensões no interior da sociedade,
inclusive aos maiores níveis de pobreza e a ausência de direitos.
Elas são historicamente a maioria
das trabalhadoras nas piores condições de vida, estando vulnerabilizadas no que
diz respeito ao salário e proteção social, a educação, a segurança alimentar,
ao acesso à moradia, ao acesso diário à água para consumo humano, a mobilidade
e acesso a equipamentos sociais, entre outros indicadores. Estão ainda
presentes nas maiores taxas de mortalidade materna, de sífilis congênita, de
violência obstétrica e nos territórios mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Somente no ano de 2022, 2.526
mulheres negras foram assassinadas no país, correspondendo ao percentual de
66,4% do total de vítimas de mortes pelo Feminicídio, segundo o Atlas da
Violência de 2024.
No entanto, precisamos reconhecer
a tamanha envergadura social deste segmento, pois foram elas que garantiram a
vida e a permanência da população negra até o momento presente, fazendo do
Brasil a segunda maior nação negra do mundo. Se as mulheres negras atravessaram
séculos de condições adversas movidas por sua ancestralidade e coragem, na
atualidade, a força de suas organizações e das diversas organizações que fazem
o Movimento Negro tem sido a condição para chegarmos à presença das jovens
negras nas universidades públicas por meio das políticas de ações afirmativas
que foram uma bandeira de grande relevância no enfrentamento ao racismo neste
país.
Na divisão social do trabalho, as
funções historicamente naturalizadas para as mulheres negras têm sido
associadas ao trabalho desqualificado, de baixa escolaridade e consequentemente
apartado do conhecimento acadêmico. Conhecimento esse que representa grande
valor nas relações sociais e suas correlações de força e poder, assim como nas
disputas do mercado de trabalho.
São as jovens negras, no Brasil e
no mundo, que têm se colocado na linha de frente da desconstrução dessa lógica,
ocupando mais e mais vagas nas universidades, exigindo novas epistemologias,
práticas pedagógicas plurais e relações de trabalho antirracistas e apontando
para a urgência de políticas públicas que ampliem seu ingresso e sua
permanência digna na educação superior.
Neste Dia de Luta que é o 25 de
Julho, queremos saudar a todas as mulheres negras de Pernambuco e, de modo
especial, aquelas que com seu trabalho técnico e/ou com suas práticas docentes
e estudantis se comprometem para que a UFPE reconheça como necessários o
enfrentamento e a superação do racismo, enquanto essa opressão se constituir
como grande obstáculo ao direito à educação superior, pública e de qualidade.
Que no Dia Nacional de Tereza de
Benguela e Dia Nacional da Mulher Negra, nós, servidoras e servidores públicos
vinculados ou aliados à causa da transformação social reconheçamos o
protagonismo político das mulheres negras e a sua importância dentro das instituições
públicas de educação superior.
Angela Nascimento e Cecília
Arruda
Membras da Comissão Organizadora
do Julho das Pretas 2024 - SINTUFEPE Mesa de Diálogo Mulheres Negras em
Movimento: A força da resistência na Cultura, na Política e na Academia
Comissão Organizadora: Angela
Nascimento, Bruna Melo, Cícera Góis, Cecília Arruda, Enídia Cordeiro, Mônica
Dinis, Roseane Pessoa e Roberto Carlos Santos.