31 julho, 2024

Manifesto em solidariedade e pelo fortalecimento da luta das mulheres negras na UFPE e em Pernambuco

 


No Brasil, o racismo e o patriarcado foram elementos motores do colonialismo, porém, longe de desaparecerem como herança do passado escravista, tais elementos foram redimensionados e atualizados sob a dinâmica da produção capitalista. Isso fez com que o racismo e o sexismo assumissem dimensões estruturadoras do modo como o capitalismo se organizou e até hoje reproduz suas desigualdades.

No topo do sistema estão os homens brancos, donos do capital, hegemônicos na política tradicional, heteronormativos, defensores da pátria (deles), da família (deles) e da propriedade (deles), e, em nome de tal poder, não aceitam que a maioria da população, formada por mulheres, e sobretudo por mulheres negras, sejam reconhecidas como parte de uma mesma humanidade e que sejam tratadas com dignidade e igualdade.

Segundo o IBGE (2022), no estado de Pernambuco, a população feminina negra é composta por 3.053.720 mulheres, o que corresponde ao maior grupo populacional do estado, atingindo a proporção de 33,7% quando comparados aos demais segmentos étnico-raciais do total da população pernambucana.

Mesmo sendo numericamente expressivas, as mulheres negras foram transformadas no segmento populacional mais aprisionado a diferentes formas de opressão e exploração que se interseccionam e se reproduzem em todas as dimensões no interior da sociedade, inclusive aos maiores níveis de pobreza e a ausência de direitos.

Elas são historicamente a maioria das trabalhadoras nas piores condições de vida, estando vulnerabilizadas no que diz respeito ao salário e proteção social, a educação, a segurança alimentar, ao acesso à moradia, ao acesso diário à água para consumo humano, a mobilidade e acesso a equipamentos sociais, entre outros indicadores. Estão ainda presentes nas maiores taxas de mortalidade materna, de sífilis congênita, de violência obstétrica e nos territórios mais vulneráveis às mudanças climáticas.

Somente no ano de 2022, 2.526 mulheres negras foram assassinadas no país, correspondendo ao percentual de 66,4% do total de vítimas de mortes pelo Feminicídio, segundo o Atlas da Violência de 2024.

No entanto, precisamos reconhecer a tamanha envergadura social deste segmento, pois foram elas que garantiram a vida e a permanência da população negra até o momento presente, fazendo do Brasil a segunda maior nação negra do mundo. Se as mulheres negras atravessaram séculos de condições adversas movidas por sua ancestralidade e coragem, na atualidade, a força de suas organizações e das diversas organizações que fazem o Movimento Negro tem sido a condição para chegarmos à presença das jovens negras nas universidades públicas por meio das políticas de ações afirmativas que foram uma bandeira de grande relevância no enfrentamento ao racismo neste país.

Na divisão social do trabalho, as funções historicamente naturalizadas para as mulheres negras têm sido associadas ao trabalho desqualificado, de baixa escolaridade e consequentemente apartado do conhecimento acadêmico. Conhecimento esse que representa grande valor nas relações sociais e suas correlações de força e poder, assim como nas disputas do mercado de trabalho.

São as jovens negras, no Brasil e no mundo, que têm se colocado na linha de frente da desconstrução dessa lógica, ocupando mais e mais vagas nas universidades, exigindo novas epistemologias, práticas pedagógicas plurais e relações de trabalho antirracistas e apontando para a urgência de políticas públicas que ampliem seu ingresso e sua permanência digna na educação superior.

Neste Dia de Luta que é o 25 de Julho, queremos saudar a todas as mulheres negras de Pernambuco e, de modo especial, aquelas que com seu trabalho técnico e/ou com suas práticas docentes e estudantis se comprometem para que a UFPE reconheça como necessários o enfrentamento e a superação do racismo, enquanto essa opressão se constituir como grande obstáculo ao direito à educação superior, pública e de qualidade.

Que no Dia Nacional de Tereza de Benguela e Dia Nacional da Mulher Negra, nós, servidoras e servidores públicos vinculados ou aliados à causa da transformação social reconheçamos o protagonismo político das mulheres negras e a sua importância dentro das instituições públicas de educação superior.

Angela Nascimento e Cecília Arruda

Membras da Comissão Organizadora do Julho das Pretas 2024 - SINTUFEPE Mesa de Diálogo Mulheres Negras em Movimento: A força da resistência na Cultura, na Política e na Academia

Comissão Organizadora: Angela Nascimento, Bruna Melo, Cícera Góis, Cecília Arruda, Enídia Cordeiro, Mônica Dinis, Roseane Pessoa e Roberto Carlos Santos.