15 junho, 2013

Práticas antidemocráticas da Reitoria da UFPE fazem o Movimento Sindical e Estudantil sair do GT-EBSERH


            O SINTUFEPE, a ADUFEPE, REPRESENTANTES DOS ESTUDANTES e SEGMENTOS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS que foram incorporados ao processo de constituição do GT vêm, por meio desta, manifestar suas considerações acerca das ações realizadas a partir do GT-EBSERH instituído por esta Reitoria, em 07 de novembro de 2012.
            É de domínio público que a partir da promulgação da Lei 12.520/2011 que instituiu a EBSERH, nem a Reitoria, nem a direção do Hospital das Clínicas promoveram quaisquer debates para esclarecimentos e/ou reflexões acerca dos rebatimentos desta para a Autonomia Universitária, para o SUS e para os trabalhadores da UFPE.
            A despeito de qualquer tipo de discussão, a Direção do HC passou a “difundir” a ideia de que “a EBSERH seria a única saída para as dificuldades enfrentadas pela administração, bem como para a contratação de pessoal e para a abertura da Urgência”, negando a constituição de espaços democráticos de discussões e transparência sobre o processo imposto aos Hospitais Universitários de forma autoritária pelo MEC e pelo MPGO.
            Por isso, o Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de Pernambuco (SINTUFEPE) em parceria com o Sindicato dos Médicos de Pernambuco, o Sindicato dos Professores da UFPE (ADUFEPE) e a União dos Estudantes de Pernambuco e segmentos dos movimentos sociais, além de participar de atos públicos denunciatórios, promoveram uma série de ações, entre estas destacamos os Seminários e debates a fim de esclarecer aos Servidores, professores e Comunidade o que viria a ser a EBSERH, seus rebatimentos para a política de saúde, para os trabalhadores e usuários do SUS. Os seminários ocorreram nos dias 18/06/12, 22/07/12, 08 e 09/08/12 e 21/10/12.
            Entre os Seminários, destacamos os que ocorreram no anfiteatro do Hospital das Clínicas, promovidos e bastante divulgados pelo SINTUFEPE, aberto a todos os interessados. A participação de funcionários do HC, de professores e de estudantes da UFPE foi muito expressiva, revelando que o tema era do interesse de todos. Porém, em nenhum desses seminários a Superintendência do HC esteve presente, reafirmando sua postura de fechamento ao diálogo.
            Os conhecimentos socializados nos seminários renderam mobilizações e vários atos públicos. Numa delas, após forte pressão do movimento dos trabalhadores e estudantil, em 13 de agosto de 2012, o Reitor da UFPE se comprometeu com as entidades sociais, sindicais, funcionários e a comunidade acadêmica em não proceder a adesão a referida Empresa sem a abertura de amplo processo democrático de discussão. Como sugestão apresentou a proposta de organização de um Grupo de Trabalho, cuja responsabilidade seria organizar o debate na universidade de forma institucional. Isto é, a Reitoria passaria a promover o debate institucionalmente e em parceria com os movimentos sindicais, estudantis e sociais.
            Enquanto era organizado o primeiro seminário do GT, pautado em princípios da pluralidade de ideias, a reitoria, a despeito destes e sem comunicar ao GT, convocou o Conselho Universitário, em caráter extraordinário, para a apresentação da Diretora de Gestão de Pessoas da EBSERH, Jeanne Liliane Marlene Michel, sobre a empresa (18/03/2013), numa clara evidência de apoio a EBSERH contradizendo o discurso “democrático” que a todo o momento o reitor tentava evidenciar. O mais grave: só posicionou-se a respeito desse ato depois que tal manobra antidemocrática foi publicamente divulgada pelo SINTUFEPE. De última hora, enviou convite aos membros do GT, numa tentativa de conciliar as tensões desencadeadas por tal arbitrariedade e manobra em defesa da empresa. Portanto, ficava cada vez mais clara a posição da reitoria em defesa da EBSERH.
            No dia 30/04/2013 o GT-EBSERH foi novamente convocado objetivando avaliar o primeiro seminário e preparar os novos debates. Mas ficamos surpresos com as colocações dos representantes da reitoria e da direção do HC que, pelos seus discursos, demonstravam o posicionamento já definido em favor da EBSERH, ao contrário do acordo inicial do reitor de que haveria pelo menos três debates, antes da votação pelo Conselho Universitário. Nenhum outro encontro ou debate foi programado para a continuidade do debate na universidade.
Ignorando, portanto, os sucessivos posicionamentos das representações fundamentais desta universidade, a exemplo do SINTUFEPE, ADUFEPE E ESTUDANTES, além dos diversos segmentos de representações nacionais, tais como o CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE e a CONFERENCIA NACIONAL DE SAÚDE que se posicionaram contra toda forma de terceirização da gestão dos serviços de saúde em âmbito nacional, a reitoria deu continuidade a consolidação da EBSERH na UFPE.  
            Vale salientar também que o PLEBISCITO Nacional organizado pela frente nacional de luta contra a privatização da saúde e várias centrais sindicais, entre as quais a ANDES e a FASUBRA, que apresentou como resultado 94% CONTRA A IMPLANTAÇÃO DA EBSERH a nível nacional. Na UFPE, o resultado foi semelhante, com 96% dos participantes contra a EBSERH.
            Além disso, a direção do HC passou a defender publicamente a EBSERH, através das entrevistas veiculadas pelo HC imprensa e rede Globo, apresentando-a como única alternativa para a superação do caos no HC.
            O auge da intencionalidade pela adesão a EBSERH se deu na reunião do Conselho Universitário do dia 23 de abril, em que após diversos transtornos para limitar a participação de estudantes, técnicos, representantes de movimentos sociais e professores, foi posto em votação a realização de um diagnóstico do HC pela referida empresa. Observe-se que foi sugerido no GT-EBSERH que se fizesse um estudo aprofundado das finanças do HC, para avaliar com segurança a mesma e ter melhor ciência para propor soluções dos problemas. Embora considerado importante por todos os participantes do GT, nunca foram encaminhadas as medidas para execução desta avaliação. Ao contrário foi proposta ao Conselho Universitário para que a EBSERH fizesse uma avaliação de nosso Hospital Universitário, como se na UFPE não tivesse professores e técnicos com competência para promover sua própria avaliação. Assim, a Reitoria desqualifica nosso quadro de professores e funcionários e desconsidera o papel da participação estudantil na vida de nossa universidade e sua relação com a sociedade de um modo geral.
Destacamos por fim que o GT vem se apresentando apenas como um Fórum de informações da Reitoria sobre os encaminhamentos da adesão a EBSERH e não se caracterizando como um instrumento de debate e posicionamento a ser encaminhado para subsidiar o Conselho Universitário e a Reitoria sobre o tema.
            Diante do exposto, comunicamos ao Magnífico Reitor e ao demais membros do GT-EBSERH que nos retiramos da construção do GT EBSERH, por ele ter sido desvirtuado do seu propósito inicial e por não apoiarmos a postura antidemocrática que vem conduzindo os trabalhos do mesmo.
            Outrossim, reafirmamos:
- Nós servidores do HC/UFPE consideramos que esta Reitoria está caminhando, até aqui, muito longe do que entendemos ser uma gestão democrática, em especial no que se refere à adesão a EBSERH;
- Temos real clareza dos rebatimentos que se darão sobre nós, a saber: ameaça à autonomia universitária, cerceamento do controle social, cerceamento do direito de greve (quando houver os "contratados via CLT" pela EBSERH), metas desenfreadas para se atingir produtividade em detrimento da qualidade do serviço e da necessidade que requer o atendimento num Hospital Universitário, que tem como demanda prioritária o serviço de alta complexidade, diferenciação entre servidores (de salários, de carga horária, etc).
- Sabemos qual o Hospital que queremos: um Hospital que seja gerido de forma democrática, que receba pelo SUS e MEC os recursos necessários ao pleno funcionamento de um Hospital Universitário, que se articule com os órgãos, Centros e Departamentos da UFPE, de forma a cumprir, além da assistência à população, a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, papéis fundamentais das Universidades Federais.
- Temos informações que como conseqüência da adesão a EBSERH, algumas universidades, a exemplo da Universidade do Espírito Santo, houve a dispensa dos trabalhadores contratados pelo RJU, com o relocamento dos mesmos, numa demonstração da subserviência da universidade à empresa.

Assim, registramos nosso posicionamento contrário à adesão a EBSERH e a tudo que vier dela seja qual for a nomenclatura. Ressaltamos que do ponto de vista jurídico há muitas incertezas, haja visto o parecer encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria Geral da República (PGR) opinou pela procedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.895, que considera inconstitucional a Lei nº 12.550/2011, que cria a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.  Na ação, a PGR sustenta que a Lei é inconstitucional por violar os artigos 37, caput, inciso II e XIX; 39; 173, parágrafo 1º; 198; e 207, todos da Constituição da República.
Assim, entendemos esgotadas as tentativas de realização de um plano de trabalho de debates em torno da polêmica implantação da EBSERH, por forças das circunstâncias imperativas da Administração Central da UFPE em desejar entregar a autonomia e o patrimônio do nosso HC à EBSERH, a revelia do que pensa a grande maioria da comunidade.

Assim, manifestamo-nos:
SINTUFEPE
ADUFEPE
COMISSÃO GESTORA DO DCE-UFPE
MOVIMENTO LUTA DE CLASSES
REPRESENTANTE DOS ESTUDANTES DE PÓS-GRADUAÇÃO