27 julho, 2016

Governo Temer impõe 'Escola sem partido' à Universidade Federal do ABC

do RDA

Ministro da Educação, Mendonça Filho, manda reitor mudar edital de contratação de professores a pedido da comunidade israelita, e docentes se manifestam: "É ataque à autonomia universitária"

O projeto Escola sem Partido, que pretende combater a doutrinação de esquerda nas escolas e defender uma educação supostamente neutra, ainda nem foi votado e sancionado, mas já está sendo implementado pelo ministro da Educação, Mendonça Filho. O ministro interino do MEC determinou à reitoria da Universidade Federal do ABC (UFABC) mudanças em edital para contratação de professores. No último dia 13, o vice-reitor Dácio Roberto Matheus publicou novo edital no Diário Oficial da União.

O motivo da discórdia: contratação de professores para a área de relações étnico-raciais no curso da universidade, que tem no programa temas como diáspora negra, direitos humanos e racismo, e conexões da branquidade e dos regimes racistas: apartheid, nazismo, sionismo. O enfoque desagradou lideranças e parte da mídia conservadora, onde alguns blogueiros chegaram a escrever que na UFABC não há diferença entre o nacionalismo judaico (sionismo) e o nazismo (que exterminava judeus) e que, essencialmente, seriam expressões da branquidade.

 A intervenção direta de Mendonça Filho e a sutil mudança no edital, cedendo ao lobby sionista, causa revolta entre os docentes. Aberta há dez anos, a UFABC é a única federal brasileira com todo o corpo docente formado por doutores, a primeira entre as universidades brasileiras no ranking SCImago nos quesitos excelência em pesquisa, publicações de alta qualidade e impacto normalizado das suas publicações. Foi avaliada pelo índice geral de cursos do MEC como a melhor universidade no estado de São Paulo e primeira no ranking de cursos de graduação entre todas as universidades do país. O índice considera fatores como infraestrutura, corpo docente e nota dos formandos no Enade.

Para o presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Rodrigo Medina Zagni, os cortes nos repasses à universidade, que já vinham acontecendo com o governo de Dilma e que vão ser ampliados precarizam a qualidade do ensino e contribuem para a terceirização e redução da autonomia. “A falta de recursos abre caminho para parcerias com a iniciativa privada e enfraquece a autonomia universitária. Muitas universidades foram perdendo a autonomia a ponto de hoje sequer poderem erguer sua voz contra o golpe”, disse.