22 novembro, 2019

O racismo e a sociedade burguesa



Por Jadilson Miguel

Nesse mês de novembro a questão da negritude e do racismo ganham maior fôlego nos debates políticos, porém essa problemática deve ser pauta de todos os dias do ano e de todos os campos das lutas.

O racismo é uma questão internacional e no Brasil consiste num problema histórico que se constituiu desde os tempos do início da colonização europeia, entranhando-se em todas as esferas da vida social: no trabalho, na cultura, na religião, na vida afetiva. Portanto, ser negro ou negra nesse país significa enfrentar mais dificuldades sociais e econômicas, por exemplo, apenas em decorrência da condição de ser quem se é. Isso não é exclusividade brasileira, visto que ser negro em muitos outros países, a exemplo dos Estados Unidos, é também ser vítima de um processo social violento.

Podemos compreender a manutenção do racismo de forma tão viva como um elemento constitutivo do próprio desenvolvimento da sociedade capitalista. Foram vários os processos históricos que objetificaram, marginalizaram e invisibilizaram o povo negro obedecendo à lógica das mercadorias e do capital: a retirada de milhões de pessoas da África por séculos para serem escravizadas na América, o lugar de exército de reserva a que foram submetidos no Brasil  as pessoas negras após a abolição da escravatura, o processo de industrialização no qual o embranquecimento dos setores urbanos pela imigração europeia obedeciam um imperativo racista. Os milhões de africanos escravizados, ao fim e ao cabo, foram peças fundamentais da expansão capitalista nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII.

Não podemos deixar de destacar que no desenvolvimento de uma sociedade racista como a nossa, destinaram-se às pessoas negras as colocações mais precarizadas no mundo do trabalho, os bairros mais periféricos nas cidades, sem falar no próprio sistema jurídico penitenciário que tem, escancaradamente, um corte de raça, desfavorecendo com grande crueldade as pessoas negras. As mulheres negras, neste cenário de opressões, ocupa um espaço ainda mais à margem.

Diante de tamanho problema persistente e histórico que é o racismo, estabelecido de forma estrutural em diversas sociedades, sobretudo na brasileira, que falsamente ostentou o slogan de ser um país de convivência harmônica racial, nos cabe enquanto trabalhadores e militantes combatermos o racismo através de variadas frentes: a política, a pedagógica, a cultural. É uma tarefa de grande monta que não pode ser dissociada de nossa luta política. Por mais que esse problema não consiga ser de uma vez por todas encerrado a curto prazo, é nossa tarefa política, ética e humana assumir uma posição de combate a esse mal que, no Brasil de 2019, parece ganhar um pouco mais de força com a situação reacionária em que vivemos e com um governo sob cujo guarda-chuva cabem o racismo, o machismo e a homofobia Ou seja, num processo de desgaste da democracia burguesa na periferia, como é o caso do Brasil, a potencialização do racismo pelo espectro político da extrema direita é condimento fundamental na radicalização do capital nos países periféricos. É portanto urgente seguir lutando no enfrentamento a esta clivagem cruel, enquanto militantes e trabalhadores da educação.