13 maio, 2015

Qual a medida do ajuste?

Medidas Provisórias 664 e 665 movimentam governo federal e deputados. Em questão, estão os direitos do trabalhador


Já se passam duas semanas que as atenções estão voltadas (ou deveriam estar) para Brasília. No final de abril o tema de atenção máxima surgiu no congresso, quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, resgatou depois de 11 anos tramitando na casa o Projeto de Lei 4330/04, que dispõe sobre o trabalho terceirizado no Brasil. Com a realização de manifestações de rua, realizadas por sindicatos e centrais sindicais, a matéria demorou ainda mais uma semana para ser votada, mas acabou por ser aprovada. Logo após, entra na pauta do legislativo as Medidas Provisórias de número 664 e 665, encaminhadas pelo Poder Executivo e já na primeira votação da MP 665 ficou evidente as contradições do governo e da oposição de direita, diante de mais uma matéria que dispõe sobre o ajuste fiscal e os direitos trabalhistas.

A MP 665 aprovada pelos deputados por curta maioria na primeira semana de maio, aborda sobre mudanças nas regras para o trabalhador ter acesso a direitos como Seguro-Desemprego e o abono salarial (PIS/Pasep). Com a MP 664, essa restrição atinge o Auxilio Doença e o direito as pensões por morte. Essas mudanças visam restringir a concessão desses direitos com vistas à contenção de despesas públicas da União, que quer atingir a meta de 15 bilhões de reais a menos, nos gastos públicos.

Algumas das mudanças

MP 665
Com a aprovação, o Seguro-Desemprego do trabalhador demitido e que for requerer o direito pela primeira vez, terá de ter trabalhado no mínimo um ano ininterrupto antes da demissão. Após isso, na segunda demissão, esse tempo será de nove meses trabalhados e a partir da terceira solicitação passa a ser de seis meses, como era até a aprovação da mudança.

MP 664
Na restrição do acesso a pensão por morte, que atinge também os trabalhadores do setor público, o benefício era concedido ao cônjuge (comprovada à relação de convivência) de forma vitalícia, agora, o cônjuge só terá direito caso comprove o mínimo de dois anos de convivência, além de o trabalhador ter contribuído para previdência por no mínimo 18 meses. Se não fosse o bastante a proposta ainda prevê que o pagamento do benefício deixará de ser vitalício, passando a ser proporcional a idade do beneficiário.


Alternativas ao ajuste

Entidades ligadas ao movimento sindical queixam-se das medidas enviadas pelo governo Dilma para o congresso, centrais sindicais inclusive já convocam para o dia 29 de maio uma paralisação nacional de diversas categorias, contra esses ajustes e em defesa dos direitos trabalhistas. Questionamentos também estão sendo feitos pela base parlamentar do PT que historicamente tem relações com categorias profissionais e que estão votando favoráveis as medidas de forma constrangida.

Os defensores da manutenção dos direitos trabalhistas apontam que outras medidas podem ser adotadas para alcançar a margem de economia desejada pelo governo, aplicação do imposto sobre grandes fortunas, a alteração em 100% da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido dos bancos (CSLL), a redução do índice de superávit primário, seriam algumas medidas para isentar dessa conta os trabalhadores, taxando o topo da pirâmide social.

No entanto, em um congresso composto por 214 deputados representantes de empreiteiras e outros 197 que representam os bancos, além da bancada do agronegócio, medidas como essas teriam muita dificuldade de serem aprovadas. Enquanto isso o governo assume a contradição de passar a conta da crise para o trabalhador, que pelo visto terá de defender os direitos com as próprias mãos.