- Mas... depois a gestão vai olhar de cara feia para mim.
Depois serei preterido, desprestigiado, escanteado, perseguido...
E você pauta suas decisões no medo? Você vai mesmo deixar que
atitudes como essas prevaleçam na nossa instituição? Independente de greve,
você suporta esse modelo de ‘organização’ do trabalho? Isso lhe paralisa ou lhe
estimula a se movimentar?
- Mas... e se cortarem a nossa jornada de trabalho de seis
horas?
Você fala da jornada que conseguimos depois de muita luta?
Essa mesmo? Essa será a moeda de troca para sua omissão? Queremos mais!
Queremos muito mais! E para conseguir nossos direitos não queremos negociar com
trocas. Só aceitamos justiça e decência!
- Mas... posso perder minha Função Gratificada (FG) depois da
greve...
E o preço do seu silêncio é justamente o valor que você
recebe como FG? E qual o preço da sua FG mesmo? O que você precisa calar para
merecer sua FG? Não seria sua Função de Servidor Público maior do que a de sua Função
Gratificada? O que você fez para conquistar sua FG? Não seria a melhoria da
classe inteira mais importante do que a manutenção do que representa a FG no
seu contracheque?
- Mas... posso ser prejudicado na minha Avaliação de
Desempenho...
Por quê? Porque seu chefe também avalia sua ‘liberdade de
lutar’ misturando com os critérios de desempenho. É isso? Porque seu chefe não
sabe separar os comportamentos e valores pessoais. É isso? Nossa ‘eficiente e
racional’ avaliação de desempenho mede o quê mesmo?
- Mas... uma greve logo quando o Brasil está enfrentando uma
crise?
E nós vamos esperar o governo melhorar a economia do país para
começar a reclamar? É justamente nesse momento de calamidade que precisamos de
fôlego e condições para respirar... Precisamos de condições saudáveis para
superar a crise. Nós também estamos na crise!
- Mas... dificilmente vamos conseguir aumento dessa vez. É
quase impossível...
Sentados, omissos, calados e subordinados, a garantia do
fracasso é estatisticamente maior. Não acham? E mesmo que não consigamos o sucesso
total, precisamos dizer o quanto estamos insatisfeitos com o cenário atual.
Trabalhar todos os dias reclamando nos corredores não tem alcance real.
Acredite!
- Mas... eu não concordo com a postura de algumas pessoas que
estão na direção do movimento de greve...
E sentado na sua cadeira você vai causar um grande impacto
com a sua opinião?!? Se você não vier propor idéias, sugerir ações, colocar a
mão na massa e a voz no trombone, como vamos melhorar o movimento, a
Universidade, o país? Que tal participar e contribuir com suas ideias
diferentes? Queremos quantidade e qualidade! Queremos força e participação!
Se você se sente pressionado por qualquer desses argumentos e
se cala, você sabota seu próprio direito de lutar. Você aceita o cabresto, a
opressão, a ditadura... Você abre mão do seu direito de liberdade de expressão.
Você concede ainda mais poder aos que agem com personalismo e opressão.
Você tem mesmo o que perder se envolvendo com o movimento que
busca a melhoria da classe? Sinceramente? Quais os motivos reais e lógicos que
fazem com que você prefira não participar dessa luta que é de todos? Se você
disser que está satisfeito com o rumo das coisas, eu vou discordar, mas vou lhe
oferecer o meu respeito pela sua coragem de defender suas crenças! Se você quer
conservar as coisas exatamente como estão, eu, no meu direito, vou lamentar
profundamente, mas vou respeitar sua vontade e seu conforto.
“Posso não concordar
com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o direito de
você dizê-las.” Voltaire
Carta aberta dos Técnicos Administrativos em Greve lotados na Reitoria
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