10 junho, 2015

Mas o quê???


- Mas... depois a gestão vai olhar de cara feia para mim. Depois serei preterido, desprestigiado, escanteado, perseguido...

E você pauta suas decisões no medo? Você vai mesmo deixar que atitudes como essas prevaleçam na nossa instituição? Independente de greve, você suporta esse modelo de ‘organização’ do trabalho? Isso lhe paralisa ou lhe estimula a se movimentar?

- Mas... e se cortarem a nossa jornada de trabalho de seis horas?

Você fala da jornada que conseguimos depois de muita luta? Essa mesmo? Essa será a moeda de troca para sua omissão? Queremos mais! Queremos muito mais! E para conseguir nossos direitos não queremos negociar com trocas. Só aceitamos justiça e decência!

- Mas... posso perder minha Função Gratificada (FG) depois da greve...

E o preço do seu silêncio é justamente o valor que você recebe como FG? E qual o preço da sua FG mesmo? O que você precisa calar para merecer sua FG? Não seria sua Função de Servidor Público maior do que a de sua Função Gratificada? O que você fez para conquistar sua FG? Não seria a melhoria da classe inteira mais importante do que a manutenção do que representa a FG no seu contracheque?

- Mas... posso ser prejudicado na minha Avaliação de Desempenho...

Por quê? Porque seu chefe também avalia sua ‘liberdade de lutar’ misturando com os critérios de desempenho. É isso? Porque seu chefe não sabe separar os comportamentos e valores pessoais. É isso? Nossa ‘eficiente e racional’ avaliação de desempenho mede o quê mesmo?

- Mas... uma greve logo quando o Brasil está enfrentando uma crise?

E nós vamos esperar o governo melhorar a economia do país para começar a reclamar? É justamente nesse momento de calamidade que precisamos de fôlego e condições para respirar... Precisamos de condições saudáveis para superar a crise. Nós também estamos na crise!

- Mas... dificilmente vamos conseguir aumento dessa vez. É quase impossível...

Sentados, omissos, calados e subordinados, a garantia do fracasso é estatisticamente maior. Não acham? E mesmo que não consigamos o sucesso total, precisamos dizer o quanto estamos insatisfeitos com o cenário atual. Trabalhar todos os dias reclamando nos corredores não tem alcance real. Acredite!

- Mas... eu não concordo com a postura de algumas pessoas que estão na direção do movimento de greve...

E sentado na sua cadeira você vai causar um grande impacto com a sua opinião?!? Se você não vier propor idéias, sugerir ações, colocar a mão na massa e a voz no trombone, como vamos melhorar o movimento, a Universidade, o país? Que tal participar e contribuir com suas ideias diferentes? Queremos quantidade e qualidade! Queremos força e participação!

Se você se sente pressionado por qualquer desses argumentos e se cala, você sabota seu próprio direito de lutar. Você aceita o cabresto, a opressão, a ditadura... Você abre mão do seu direito de liberdade de expressão. Você concede ainda mais poder aos que agem com personalismo e opressão.
Você tem mesmo o que perder se envolvendo com o movimento que busca a melhoria da classe? Sinceramente? Quais os motivos reais e lógicos que fazem com que você prefira não participar dessa luta que é de todos? Se você disser que está satisfeito com o rumo das coisas, eu vou discordar, mas vou lhe oferecer o meu respeito pela sua coragem de defender suas crenças! Se você quer conservar as coisas exatamente como estão, eu, no meu direito, vou lamentar profundamente, mas vou respeitar sua vontade e seu conforto.


Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” Voltaire

Carta aberta dos Técnicos Administrativos em Greve lotados na Reitoria
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