28 junho, 2015

Sobre machismo, etarismo e a necessidade de autocrítica

Texto aprovado em Assembleia Geral da Categoria, que aconteceu no dia 26 de junho de 2015, no Auditório do Centro de Ciências Biológicas. 


Sobre machismo, etarismo e a necessidade de autocrítica


Na última quinta-feira, durante uma visita ao campus de caruaru, sofri uma agressão pública injustificada. Fui exposta publicamente por ter defendido contra referendarmos os delegados tirados na assembleia local de caruaru.

Como todos sabem, havia uma proposta colocada na assembleia da quarta-feira, 17 de junho de 2015, de referendarmos os delegados que os técnicos de Caruaru haviam eleito. No entanto, defendemos contra, sob o argumento de que esta separação de assembleias poderia estimular uma separação das lutas. E não uma articulação delas. Utilizamos como exemplo a nossa falta de diálogo com a UFRPE, nossa incapacidade em articular comandos de greve unificados, a ausência de delegados de base no SINTUFEPE; fatores que nos levam a uma completa falta de conexão entre as lutas em locais de trabalho diferentes. Sejam eles no interior, caso do CAA e do CAV ou na capital, caso da TVU e do CCJ. Outras pessoas e grupos também foram contra os delegados de Caruaru, mesmo que por outros motivos (estatuto ou filiação).

Durante a visita em questão, um dos companheiros do campus Recife puxou uma reunião informal de repasses com todos os presentes. Fez uma fala para explicar o que tinha sido decidido em assembleia. Na tentativa de complementar o informe, levantei a mão indicando que desejava falar. No entanto, por razões que eu só posso concluir que têm fundo machista e etarista, o companheiro se sentiu à vontade para, na frente dos companheiros de Caruaru presentes, dizer que “inclusive, quem defendeu contra vai falar”, enquanto apontava para mim.

Várias mulheres presentes na visita se mostraram insatisfeitas com a atitude, considerada anti-ética. É necessário esclarecer que, independentemente de quem tenha defendido a proposta, ela foi aprovada em assembleia. Ou seja: foi referendada por toda a categoria presente e não definida por uma única fala. É completamente anti-ético expor pessoalmente quem defendeu contra na frente dos desfavorecidos com esta defesa. Esta exposição só gera desconfiança entre técnicos do CAA e a companheira apontada e em NADA contribui para solucionar a falta de comunicação entre os campi do interior e o campus Recife.

Esta foi uma tentativa deliberada de deslegitimação pública, a qual muito provavelmente não teria acontecido se eu fosse um homem mais velho. Não sou a primeira mulher deslegitimada no movimento sindical. É por este motivo que poucas nos mantemos na militância, que poucas pegamos o microfone e que poucas propomos estratégias para o movimento. É este tipo de postura que nos afasta. Insensibilidade, grosseria, gritaria, deslegitimação pública. E completa ausência de autocrítica.

O companheiro, durante a festa de São João, em conversa informal, chegou a dizer que fez isso para “Me dar uma lição.” E em momento algum me pediu desculpas. Ele não só ignora completamente os problemas éticos de sua atitude como se orgulha de ter me mostrado como, na opinião dele, se faz movimento. Como se existissem professores e estudantes no Sintufepe. Como se o fato de eu ser mais nova me colocasse na posição automática de aprendiz.

Com esta carta, quero lembrar a todas as companheiras que não precisamos chorar ou nos abalar sozinhas. Estas atitudes precisam ser denunciadas e os companheiros precisam entender que não vai ficar por isso mesmo. Não nos intimidaremos com atitudes covardes deste tipo. Machistas anti-éticos não nos afastarão no movimento sindical.

Por fim, não vou devolver na mesma moeda e, portanto, não citarei aqui o nome do companheiro em questão. É desejável que o próprio faça a autocrítica e se coloque publicamente, da mesma forma que se sentiu à vontade para me expor de forma baixa e gratuita. Quem se sente à vontade para apontar o dedo para as outras, deveria igualmente conseguir apontá-lo para si mesmo. Sigamos na construção de um movimento sindical mais ético e acolhedor para os mais novos e, principalmente, para as mulheres.

Por práticas éticas no SINTUFEPE.
Machistas, não passarão.

Leilane, 26 de junho de 2015.