10 junho, 2020

Governo de Pernambuco antecipa, de maneira precipitada, a reabertura das atividades econômicas no estado

O Lockdown nos municípios de Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata chegou ao fim no dia 31 de maio. A medida foi implementada no dia 16 daquele mês e não conseguiu alcançar a meta de 70% de adesão da população às medidas de isolamento social. Apesar disso, foi registrada uma desaceleração no contágio do novo Coronavírus em Pernambuco, segundo a Secretaria de Saúde do Governo do Estado, bem como levantamentos feitos pelo Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pela Escola de Higiene e Medicina Tropical da Universidade de Londres.

No dia seguinte ao encerramento do lockdown, o governo de Pernambuco anunciou o chamado “Plano de Convivência com a Covid-19” que prevê a retomada das atividades econômicas em Pernambuco em 11 etapas. Na sexta-feira (5), foi anunciada a antecipação do cronograma e mudanças nas regras de funcionamento para parte dos 32 setores que voltarão a operar. Por pressão dos empresários o governo sinaliza tal abertura, mas sem indicar a correção de um problema sério que a Região Metropolitana do Recife enfrenta desde antes da pandemia, que é o péssimo serviço de transporte coletivo oferecido pelo Consórcio Grande Recife de Transporte e as empresas de ônibus concessionarias. Já no início dessas etapas é visível um aumento absurdo na lotação do transporte coletivo, agravando o risco de contaminação dos trabalhadores e trabalhadoras que utilizam esse tipo de transporte.      

No último domingo (7), o governador Paulo Câmara chegou a divulgar que o estado conseguiu zerar a fila de pacientes aguardando por leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), porém, segundo dados disponibilizados pelo Portal de Transparência de Pernambuco, a Secretaria de Saúde registra ocupação de 96% das vagas nos leitos de UTI e 62% das vagas nas enfermarias.

Em entrevista a infectologista Dra. Marcela Vieira, apontou que ainda era muito cedo para o Governo do Estado implementar tais medidas. “A minha avaliação é que, no momento, [a reabertura] está sendo precipitada. Eu acho que precisaria de um tempo maior de avaliação da permanência desse decréscimo que tem acontecido em relação ao número de casos”. Para ela, a aparente estabilidade não assegura que este seja o momento adequado para a retomada. “A gente está vivenciando a desaceleração do número de casos, mas ainda temos cerca de 800 novos casos por dia. Então, no contexto de reabertura, isso pode representar um novo processo de rebote no número de casos”, diz a médica.

Covid-19: Pernambuco X Brasil

As medidas do Governo do Estado passam a valer apenas um dia depois que o Governo Federal ordenar que o Ministério da Saúde retirasse os dados sobre o Coronavírus do seu site, dificultando ainda mais o acesso à dados gerais sobre a doença e modificando a metodologia de divulgação para maquiar os reais dados.

Também no domingo último, o Instituto para Redução de Riscos e Desastres em Pernambuco (IRRD) lançou uma ferramenta que calcula o risco do coronavírus no Brasil e nos estados. A área verde significa que há possibilidade para reabertura. A amarela, aponta uma tendência ao estrangulamento do sistema de saúde e, a vermelha, forte possibilidade de colapso. O gráfico do Brasil é vermelho, já o de Pernambuco está caminhando para o amarelo. Acessar gráficos aqui.

O cenário que o país enfrenta atualmente é, de longe, um dos piores do mundo e o atual governo, sem sombras de dúvidas, se mostra completamente inábil no combate à pandemia. A antecipação de etapas do chamado Plano de Convivência com a Covid-19 pode pôr em risco a vida de trabalhadores e trabalhadoras que estarão expostos e expostas ao contágio, seja no ambiente de trabalho, ou no translado entre o labor e a casa.

Especialistas seguem apontando que a reabertura precoce das atividades econômicas pode trazer, não só uma nova onda de contágio, como também uma nova onda de óbitos em decorrência da doença. Novamente, os trabalhadores se veem colocados entre a cruz e a espada, tendo suas vidas postas em risco pelos planos de “convivência” com a aquilo com o qual não se pode conviver.