Não é de hoje que a população negra enfrenta as truculências
do racismo estrutural no Brasil, nos Estados Unidos e mundo afora. Basta fazer
uma breve pesquisa na internet para perceber o quanto a desigualdade racial
está enraizada desde os princípios da colonização no século XVI. A partir da
adoção histórica de um sistema de opressão e exploração dos povos da África e
das Américas pelas elites europeias, se reproduziu ao longo dos séculos uma
violência sistêmica, que continua praticando injustiças e assassinatos de
homens, mulheres e crianças pretas. Mesmo após a abolição formal da escravidão,
o Estado brasileiro não promoveu uma efetiva inclusão e integração social e
econômica. Até hoje são inúmeros os casos de despreparo e ação preconceituosa
de agentes públicos no atendimento e abordagem à população negra.
Em meio à pandemia mundial da Covid-19, a violência policial
surge como uma ameaça à população negra no Brasil e nos Estados Unidos. No mês
passado, enfrentando o isolamento social devido aos riscos de contágio do novo
coronavírus, o menino João Pedro, um adolescente preto, de 14 anos de idade,
foi morto com um tiro de fuzil, dentro de casa, por policiais durante uma
operação desastrosa na comunidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Em
Minneapolis (EUA), George Floyd, um homem preto, de 46 anos de idade, acusado
supostamente por utilizar uma cédula falsa de dólar, foi assassinado em plena
luz do dia por um policial branco que o sufocou por aproximadamente oito
minutos, diante de outros três oficiais, enquanto o homem dizia repetidas vezes
“eu não consigo respirar”. E agora no início do mês de junho, o pequeno Miguel
Otávio, de 5 anos, despenca de um prédio de luxo, na capital pernambucana,
depois que a patroa da mãe do menino, uma senhora branca, ter intencionalmente
deixado o garoto utilizar sozinho o elevador do prédio. Assim, à procura da
mãe, a criança fez um caminho que resultou em sua queda, de uma altura de 35
metros, e consequente morte.
Não bastassem esses episódios escandalosos, vaza um áudio do
Sérgio Camargo, atual presidente da Fundação Palmares, uma entidade nacional
fundada em 1988 para promover e preservar a influência negra na formação da
sociedade brasileira, ligada hoje ao Ministério do Turismo. O titular da
Fundação Palmares, que é afrodescendente, destrata o movimento negro de maneira
coletiva e odiosa, chamando a todos de “escória maldita”. No particular, ele
ataca a memória de Zumbi dos Palmares e a reputação da mãe de santo Baiana de
Oyá. Esta última denunciou Camargo recentemente pelos crimes de injúria racial,
além de discriminação racial e religiosa.
Um artigo do centro de pesquisas Brookings Institution,
afirma que um em cada mil negros morre nas mãos da polícia nos EUA. No Brasil,
um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos. A pesquisa intitulada “Mapa da
Violência” de 2016 mostra que 42.291 pessoas foram vítimas de homicídio no
Brasil em 2014. Destas, 70,5% são negras (considerando pretos e pardos). Do
total de assassinatos, 59,7% foram de jovens entre 15 e 29 anos de idade.
A Covid-19 escancara a histórica desigualdade racial e
social. Nos Estados Unidos é três vezes mais provável que uma pessoa preta
morra em decorrência do contágio da doença do que uma pessoa branca. No Brasil,
pretos e pardos sem escolaridade morrem quatro vezes mais acometidos pelo novo
Coronavírus do que brancos com nível superior, segundo especialistas.
A população dos Estados Unidos segue diariamente na
realização de protestos, com milhares de pessoas nas ruas em mais de 70
cidades, pedindo justiça por George Floyd, protestos que já ganham ressonância
em grandes metrópoles do mundo, como Londres e Paris. No Brasil, abaixo
assinados exigem justiça pelo assassinato do adolescente João Pedro e mais
recentemente pela morte do Miguel Otávio.
O Sintufepe-UFPE repudia toda e qualquer prática de racismo,
seja no ambiente de trabalho, nas ruas, no Brasil, ou no mundo. Para a direção
do sindicato, não é possível construir justiça e igualdade sem antes romper com
as correntes da opressão e da segregação. Nas palavras da escritora, filósofa,
educadora e ativista estadunidense, Angela Davis, “Numa sociedade racista, não
basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.