05 junho, 2020

Racismo é instrumento de opressão social no Brasil e no mundo



Não é de hoje que a população negra enfrenta as truculências do racismo estrutural no Brasil, nos Estados Unidos e mundo afora. Basta fazer uma breve pesquisa na internet para perceber o quanto a desigualdade racial está enraizada desde os princípios da colonização no século XVI. A partir da adoção histórica de um sistema de opressão e exploração dos povos da África e das Américas pelas elites europeias, se reproduziu ao longo dos séculos uma violência sistêmica, que continua praticando injustiças e assassinatos de homens, mulheres e crianças pretas. Mesmo após a abolição formal da escravidão, o Estado brasileiro não promoveu uma efetiva inclusão e integração social e econômica. Até hoje são inúmeros os casos de despreparo e ação preconceituosa de agentes públicos no atendimento e abordagem à população negra.

Em meio à pandemia mundial da Covid-19, a violência policial surge como uma ameaça à população negra no Brasil e nos Estados Unidos. No mês passado, enfrentando o isolamento social devido aos riscos de contágio do novo coronavírus, o menino João Pedro, um adolescente preto, de 14 anos de idade, foi morto com um tiro de fuzil, dentro de casa, por policiais durante uma operação desastrosa na comunidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Em Minneapolis (EUA), George Floyd, um homem preto, de 46 anos de idade, acusado supostamente por utilizar uma cédula falsa de dólar, foi assassinado em plena luz do dia por um policial branco que o sufocou por aproximadamente oito minutos, diante de outros três oficiais, enquanto o homem dizia repetidas vezes “eu não consigo respirar”. E agora no início do mês de junho, o pequeno Miguel Otávio, de 5 anos, despenca de um prédio de luxo, na capital pernambucana, depois que a patroa da mãe do menino, uma senhora branca, ter intencionalmente deixado o garoto utilizar sozinho o elevador do prédio. Assim, à procura da mãe, a criança fez um caminho que resultou em sua queda, de uma altura de 35 metros, e consequente morte.

Não bastassem esses episódios escandalosos, vaza um áudio do Sérgio Camargo, atual presidente da Fundação Palmares, uma entidade nacional fundada em 1988 para promover e preservar a influência negra na formação da sociedade brasileira, ligada hoje ao Ministério do Turismo. O titular da Fundação Palmares, que é afrodescendente, destrata o movimento negro de maneira coletiva e odiosa, chamando a todos de “escória maldita”. No particular, ele ataca a memória de Zumbi dos Palmares e a reputação da mãe de santo Baiana de Oyá. Esta última denunciou Camargo recentemente pelos crimes de injúria racial, além de discriminação racial e religiosa.

Um artigo do centro de pesquisas Brookings Institution, afirma que um em cada mil negros morre nas mãos da polícia nos EUA. No Brasil, um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos. A pesquisa intitulada “Mapa da Violência” de 2016 mostra que 42.291 pessoas foram vítimas de homicídio no Brasil em 2014. Destas, 70,5% são negras (considerando pretos e pardos). Do total de assassinatos, 59,7% foram de jovens entre 15 e 29 anos de idade.

A Covid-19 escancara a histórica desigualdade racial e social. Nos Estados Unidos é três vezes mais provável que uma pessoa preta morra em decorrência do contágio da doença do que uma pessoa branca. No Brasil, pretos e pardos sem escolaridade morrem quatro vezes mais acometidos pelo novo Coronavírus do que brancos com nível superior, segundo especialistas.

A população dos Estados Unidos segue diariamente na realização de protestos, com milhares de pessoas nas ruas em mais de 70 cidades, pedindo justiça por George Floyd, protestos que já ganham ressonância em grandes metrópoles do mundo, como Londres e Paris. No Brasil, abaixo assinados exigem justiça pelo assassinato do adolescente João Pedro e mais recentemente pela morte do Miguel Otávio.

O Sintufepe-UFPE repudia toda e qualquer prática de racismo, seja no ambiente de trabalho, nas ruas, no Brasil, ou no mundo. Para a direção do sindicato, não é possível construir justiça e igualdade sem antes romper com as correntes da opressão e da segregação. Nas palavras da escritora, filósofa, educadora e ativista estadunidense, Angela Davis, “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.